E não só por isso. Ela carregou a Palavra no ventre, não na boca. Estava cheia, fisicamente inclusive, de Cristo, e o irradiava com sua simples presença. Jesus lhe saía dos olhos, do rosto, de toda a pessoa. Quando nos perfumamos, não precisamos avisar. Basta estar perto. Maria, especialmente no tempo em que trazia Jesus no ventre, estava cheia do perfume de Cristo.
Podemos dizer que Maria foi a primeira consagrada de clausura da Igreja. Depois do Pentecostes, ela como que entrou em clausura. Através das cartas dos apóstolos, conhecemos inúmeras personagens, entre elas tantas mulheres, da primitiva comunidade cristã. E achamos menção a certa Maria (cf. Rom 16,6), mas não é ela. De Maria, a Mãe de Jesus, nada. Ela desaparece no mais profundo silêncio. Mas o que significou para João tê-la ao lado enquanto escrevia o Evangelho e o que pode significar para nós tê-la ao lado enquanto proclamamos o mesmo Evangelho! “Primícias dos Evangelhos”, escreve Orígenes, “é o de João, cujo sentido profundo não se pode perceber sem se ter apoiado a cabeça no peito de Jesus nem se ter recebido dele Maria como própria mãe” (Orígenes, Comentário a João, I, 6,23).
Maria inaugurou na Igreja uma segunda alma, ou vocação, que é a alma escondida e orante, junto com a alma apostólica ou ativa. Maria está em pé, com os braços abertos em espera orante. Em torno dela, os apóstolos, todos com um pé ou mão elevada, em movimento, representando a Igreja ativa, que está em missão, que fala e age. Maria está imóvel abaixo de Jesus, no ponto exato de onde ele ascendeu, quase como mantendo viva a memória dele e a espera pelo seu retorno.
Encerremos ouvindo as palavras finais da Evangelii Nuntiandi, de Paulo VI, que pela primeira vez nos documentos pontifícios chama Maria de estrela da evangelização: “Na manhã de Pentecostes, Ela presidiu com a oração o início da evangelização sob a ação do Espírito Santo. Seja ela a estrela da evangelização sempre renovada que a Igreja, dócil ao mandado do Senhor, deve promover e cumprir, particularmente nestes tempos difíceis, mas cheios de esperança!”. ”
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Frei Raniero Cantalamessa Em sua segunda pregação ao Santo Papa Bento VI |
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